Nota do grupo acerca da inadequada tipificação de uma “PSICANÁLISE FERENCZIANA”

NOTA DO GRUPO BRASILEIRO DE PESQUISAS SÁNDOR FERENCZI (GBPSF) ACERCA DA INADEQUAÇÃO DA TIPIFICAÇÃO DE UMA “PSICANÁLISE FERENCZIANA”

Sándor Ferenczi foi um grande defensor da psicanálise em sua radicalidade. Para ele, todas as tentativas de delimitar um campo pré-definido, um conjunto de práticas ou conceitos em relação aos quais a psicanálise deveria se subordinar de modo ortodoxo, deveriam ser consideradas uma resistência quanto aos nossos verdadeiros propósitos. Os principais valores que regeram sua clínica, seu ensino e seu legado, dizem respeito à abertura para o que foi silenciado no outro. Qualquer tentativa de adjetivar a psicanálise, especialmente acrescentando um nome próprio ao lado desta – com exceção do de Freud – trazia, segundo Ferenczi, um risco inexorável à nossa disciplina.
Nós do GBPSF, imbuídos deste espírito, não defendemos uma psicanálise ferencziana, nem a formação de analistas ferenczianos. Procuramos acolher os analistas que encontram, na polissemia de vozes da psicanálise, um espaço que também seja inspirado por Ferenczi. E defendemos, isto sim, uma psicanálise plural, não dogmática, dialogal, arejada pelo espírito do seu tempo e capacitada a enfrentar desafios cada vez mais complexos.
Ferenczi não nutriu simpatia por homenagens em forma de exaltação do seu nome, nem empregou esforços para construir uma linhagem ferencziana dentro do movimento psicanalítico. Frente a uma preocupação de Freud nesse sentido, de que o húngaro quisesse fundar uma nova variedade de análise, Ferenczi responde de maneira direta, numa carta de 29 de agosto de 1932, que se “sentia livre da tendência de fundar uma nova escola”. Não se tratava de um exercício de modéstia, humildade ou hipocrisia.
Se a psicanálise contemporânea não estiver marcada pela abertura e pelo trânsito crítico entre vários autores, se não for pós-escolas, e se não puder levantar os telhados paroquiais para pensar mais livremente, pouco terá aprendido com nosso caro mestre húngaro.

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